Pedalando pela História: A Jornada do Ciclismo no Brasil desde o Império até os Dias Atuais
Imagem de Microsoft Designer + IA Copilot
Featured

Pedalando pela História: A Jornada do Ciclismo no Brasil desde o Império até os Dias Atuais

Nos últimos anos do Império no Brasil temos os primeiros registros da imprensa brasileira sobre a prática do ciclismo em território nacional. O Rio de Janeiro de então como a maior e mais desenvolvida cidade do país já contava com um número razoável de clubes dedicados a outras práticas esportivas.

No ano de 1885, por exemplo, já estava difundida a prática de corridas de pedestres, corridas a pé, em alguns desses clubes. Foram estes que com a novidade da chegada das bicicletas ao país começaram timidamente a promover também corridas de bicicleta.

No início devido ao pequeno número de pessoas com condições de importar as tão sofisticadas bicicletas a participação em corridas promovidas por esses clubes era bastante reduzida. Com corridas contando de 2 a 5 participantes.

 

Conforme a prática vai se afirmando os números vão evoluindo e clubes que promoviam corridas de bicicleta junto com outras modalidades no início e aos poucos foram se extinguindo deram lugar a clubes exclusivamente dedicados ao ciclismo. Caso do Veloce Club, de 1887, formado por egressos do Clube Athletico Fluminense, que na sua fundação teve a presença dos membros da Família Imperial.

 

Os últimos anos do Império foram marcados por agitação de ordem política e em determinado momento os jornais silenciam sobre a prática do ciclismo. De forma que apenas após a proclamação da república vemos um retorno da imprensa ao assunto. E então, como o ciclismo estava relacionado a tudo que havia de mais moderno e a um novo estilo de vida que a república desejava capturar para si, vemos uma refundação do ciclismo e sua divulgação através dos jornais republicanos como tradução dos novos valores dinâmicos propostos pela nova ordem republicana.

 

Simultaneamente com a maciça presença das elites brasileiras na Europa começamos a ver a associação de agentes brasileiros com franceses para fundação de espaços exclusivamente dedicados à prática do ciclismo esportivo no Brasil. Assim nascem os primeiros Velódromos Brasileiros.

 

Em 1892 é fundado o Bellodromo Nacional, na Rua do Lavradio, 158 no centro do Rio de Janeiro. No ano seguinte é a vez do Velódromo Guanabara, na Praia de Botafogo, uma iniciativa organizada entre brasileiros e importantes atores do ciclismo francês, Gustave Allem´s e Jules Allem´s, em 1897 funda-se também na Rua do Lavradio mais um velódromo, o Frontão Velocipédico Fluminense, administrado pela empresa Velo-Sport de propriedade de um eminente ciclista francês que havia sido contratado pelo Bellodromo Nacional em 1892 para ser instrutor de velocipedia quando da fundação deste velódromo. Victor laborde.

 

Laborde teve uma constante relação com Petrópolis. Onde foi inúmeras vezes reportado, pela imprensa brasileira e francesa, como instrutor de ciclismo e também como fundador de uma loja de aluguel de bicicletas e da União Velocipédica Petropolitana.

 

Laborde administrou o Frontão Velocipedico Fluminense até 1898 quando o endurecimento do Estado Brasileiro sobre as práticas do jogo e das apostas afetou o que seria o fundamento e o sustento dos Velódromos da época. Ainda tentou no Brasil outra modalidade de ciclismo “Sur Route” , o ciclismo de estradas, que era regido por outras organizações que tinham por princípio manter-se distante de apostas e do profissionalismo. Sem grande sucesso migrou para Argentina onde inicialmente dirigiu o Velódromo Municipal de Buenos Aires e mais tarde envolveu-se no motociclismo e automobilismo local tornando-se uma celebridade naquele país.

 

A febre dos Velódromos não se restringiu apenas ao Rio de Janeiro. Nos anos adjacentes à fundação dos velódromos cariocas houve inaugurações de velódromos por todo território nacional. Em 1896 em São Paulo, Antonio Prado Junior fundou o importante Velódromo da Consolação em terreno de sua avó Veridiana. Em 1899 O velódromo de Porto Alegre foi fundado no Rio Grande do Sul. Em Manaus no Amazonas, Belém no Pará, São Luiz no Maranhão, Recife em Pernambuco e nas cidades de Barbacena, Juiz de Fora, Paraíba do Sul Velódromos foram fundados e refundados com grande frequência neste período.

 

Apesar do anonimato e do amadorismo serem práticas louváveis segundo a cultura corrente na época, nesse esporte, alguns nomes de atletas atravessaram o tempo. E principalmente aqueles que foram dominantes em seus espaços podem ser encontrados nas linhas das fontes primárias que foram os jornais da época preservados até hoje em nossos arquivos públicos e particulares.

 

Nomes como o de Arthur do Rego Pontes, o “Nelson”. Ciclista dominante no Rio de Janeiro e que convidado a competir em outros estados ou em embates com ciclistas europeus presentes aqui, sempre obteve vitórias afirmativas de sua dominância a nível nacional. O maior dos ciclistas da época dos Velódromos no Brasil.

 

De São Paulo, Otto Huffenbaecher, o “Otto”, filho de imigrantes alemães de Campinas, além de administrar o Velódromo da Consolação, era um fortíssimo atleta com enorme fio de vitórias. O próprio fundador do Velódromo de São Paulo Antonio Prado Jr. era o fortíssimo ciclista de codinome “Odarp”, com vitória no ciclismo “Sur Route” na França.
No Velódromo Amazonense, o ciclista Deodoro d´Alcantara Freire, o “Stoessel” era o dominante. No Velódromo Paraense, Jacinto Ferro.

 

Em Petrópolis, onde em um primeiro momento uma pista foi construída no Palácio de Crystal o nome de Francisco José Câmara aparece constantemente. Depois da virada do século (1903) já com o advento de uma pista do Velo-Sport na cidade é a vez do nome de Jacob Francisco Nicolay, o “Raio” que é ventilado pela imprensa da época!

 

Pedalando pela História: A Jornada do Ciclismo no Brasil desde o Império até os Dias Atuais
Crédito: Biblioteca Nacional, tutora das fotos de: Jornal O País (anúncio) Revista da Semana (ciclista petropolitano Jacob Nicolay - "Raio")

 

Ainda do ciclismo da fase do Império é importante lembrar também dos pioneirissímos nomes que emergem da cobertura dos jornais da época Arino do Vabo, Mário de Sá e L. Azevedo.

 

A partir de uma série de acontecimentos políticos, econômicos e sociais, como o fim ou a decadência dos ciclos da borracha no norte do país ou do café no sudeste ou ainda a proibição ou pressão sobre os jogos de azar ou até mesmo a ascensão do futebol como esporte com mais apelo às massas, o ciclismo vai perdendo espaço e se mantém vivo de maneira marginal no panorama de esportes praticados no Brasil.

 

É importante notar também que concomitantemente ao desenvolvimento do ciclismo esportivo se deu a adoção do hábito do uso da bicicleta mais amplamente pela sociedade como um todo e esse hábito nunca mais foi abandonado pela população.

 

Esse é um breve apanhado, muito resumido, do pioneirismo dos primeiros momentos do ciclismo no Brasil. Há muito mais a ser contextualizado e muito mais a ser mesmo descoberto. A contextualização dos nossos espaços, dos nossos atores e pioneiros e dos fatos que pavimentaram a história da bicicleta no Brasil é um passo para o amadurecimento e desenvolvimento do país na direção das nações que são donas da sua história e logo do seu caminho para o futuro!

 

Atenciosamente,

 


Ricardo Henrique Rocha
Pesquisador do Ciclismo e Motociclismo Brasileiro
@cafe_carbono

 

 

 

Política de Cookies
Política de Cookies

Usamos cookies em nosso site para melhorar sua experiência. Ao clicar em "Aceitar Tudo", você concorda com o uso dos cookies. Pode ainda clicar em "Politica de Privacidade" para conhecer como tratamos esse assunto.

ACIPE

Siga-nos!

Canais de Atendimento

Horário Comercial

Seg-Sex 10:00-17:00

hs. no Rio - 🇧🇷